SÃO PAULO – A baixa renda vem ganhando cada vez mais espaço no comércio eletrônico brasileiro. Levantamento da consultoria e-bit, feito a pedido do GLOBO, mostra que o número de consumidores virtuais com renda familiar igual ou inferior a R$ 3 mil mensais aumentou 62,7% entre 2009 e o primeiro semestre de 2011, passando de 7,8 milhões para 12,7 milhões de pessoas. Com isso, os consumidores da base da pirâmide social passaram a representar 46,5% do universo total de 27,4 milhões de internautas que adquiriram o hábito de comprar pela internet. Em 2009, esse percentual era de 44,6%. Os dados da e-bit mostram ainda que a velocidade de entrada desses “econsumidores” continua crescente desde 2007, quando somavam 3,3 milhões. Somente nos primeiros seis meses deste ano, dos 4,02 milhões de pessoas que utilizaram pela primeira vez a rede para fazer compras, 2,5 milhões, ou 61%, declararam renda familiar mensal abaixo dos R$ 3 mil. A chegada rápida desse público no mundo do comércio eletrônico comprova que o consumidor de menor poder aquisitivo está cada vez mais conectado. A explosão das vendas de computadores nos últimos anos e o crescimento do acesso a banda larga ajudaram a trazer mais brasileiros para o varejo eletrônico. Mulheres são as maiores adeptas da internet Na avaliação de Alexandre Umberti, diretor de marketing da e-bit, o crescimento da baixa renda no comércio eletrônico é uma realidade e deverá continuar nos próximos anos. Ao contrário do que muitos especialistas imaginavam. O chamado econsumidor de classe social menos abastada não está apenas experimentando esse novo canal, mas comprando produtos de alto valor unitário (geladeiras, televisores, computadores, celulares e até móveis, roupas e calçados) e aproveitando as facilidades do cartão de crédito. “Percebemos que esse consumidor já chega ao novo canal adquirindo produtos de alto valor agregado, como eletrodomésticos, eletrônicos e artigos de informática. A partir dessa primeira experiência, muitas vezes parcelada em 12 vezes sem juros no cartão de crédito, esse indivíduo passa a considerar a internet como canal de compras no seu repertório de opções – observa Umberti. Segundo o levantamento da e-bit, esse novo público de compradores pela internet é formado majoritariamente por mulheres com idade entre 35 e 49 anos (24%) e moradores na região Sudeste do país – Nordeste e Sul têm 14% e 12% de participação, respectivamente. Ainda de acordo com os dados da pesquisa, apesar de uma frequência menor de compras e menor renda, o tíquete médio registrado no primeiro semestre de 2011 foi de R$ 320, contra R$ 355 do total dos compradores da internet. A pedagoga paulista Maria Aparecida Silva é uma dessas consumidoras que descobriram a internet e que estão deixando de comprar nas lojas tradicionais pela facilidade de acesso das lojas eletrônicas. Com um salário mensal em torno de R$ 1.500, Maria Aparecida virou “craque” no comércio eletrônico, adquirindo “quase tudo” pelo computador. Embora o Procon de São Paulo tenha registrado mais de 22 mil reclamações sobre pro dutos e serviços adquiridos pela Internet, ela diz que desde que começou a comprar pela rede teve apenas um problema, mas que foi resolvido rapidamente. “Já comprei celular, aparelho de som e DVD, notebook, livros… Só tive um probleminha, que eles (a loja) resolveram rapidamente. O que me atrai mais na Internet é a facilidade de comprar e pesquisar os produtos”, disse ela, que ensina colegas de trabalho a comprar na rede: “Muitas não entendem nada de internet”, conta Maria Aparecida, que paga boa parte dos produtos em até 12 vezes no cartão de crédito. Sites esperam fatura R$ 8 bi com novo público Ao mesmo tempo em que crescem sua presença no comércio eletrônico do País, os consumidores virtuais menos abastados estão aumentando também sua participação no bolo financeiro do setor. Em 2010, dos R$ 14,8 bilhões faturados pelas lojas online (em 2009, foram R$ 10,6 bilhões), R$ 5.2 bilhões, ou 35%, tiveram origem justamente nos econsumidores de baixa renda, cujo tíquete médio de compra foi de R$ 314. Para este ano, cuja previsão de vendas é 30% maior (algo em torno dos R$ 20 bilhões), a expectativa da consultoria e-bit é de que o valor faturado com os compradores das classes de menor renda fique entre R$ 7 bilhões e R$ 8 bilhões (35% a 40% do total previsto para as vendas pela internet em 2011). O crescimento da participação deve se dar pelo maior número de consumidores e pelo aumento do valor médio da compra, que deve superar os R$ 340. Não é à toa que os grandes varejistas estão com projetos e investimentos renovados em seus sites na rede, caso de Casas Bahia, Carrefour, Ponto Frio e Walmart. Por Lino Rodrigues Fonte: Jornal O Globo (RJ)