A conjunção de aumento da renda e inclusão digital caiu como upgrade para o segmento do comércio brasileiro que decidiu investir nas vendas eletrônicas. Apesar de o volume ainda ser baixo – em 2010, o faturamento registrado pelo e-commerce foi de RS 14,8 bilhões, frente a RS 900 bilhões do total do comércio brasileiro -, o segmento vem crescendo uma média anual de 30% nos últimos cinco anos, e a tendência ainda é de expansão. “Somente no primeiro semestre deste ano, incorporamos quatro milhões de novos consumidores que fizeram sua primeira compra pela rede, somando um total de 27 milhões de e-consumidores”, diz Ludovino Lopes, novo presidente da camara-e.net. Para Altamiro Carvalho, economista da Fecomercio, o aprimoramento da logística de armazenamento, de cobrança e de entrega colaborou significativamente para o avanço do segmento. “AIém disso, a resistência inicial a esse tipo de comércio, motivada pela desconfiança quanto ao sigilo das transações e entrega do produto, diminuiu muito com o surgimento dos sites seguros e da proteção de legislação específica, que inclui até direitos não contemplados nas vendas físicas. como o do arrependimento”, afirma. Alexandre Umberti, diretor de marketing e produtos da e-Bit, empresa que pesquisa a satisfação com consumidores em quatro mil lojas virtuais, afirma que a entrada das tradicionais lojas de varejo brasileiras para o mundo do e-commerce também colaborou para fortalecer a credibilidade desse segmento. “Além disso, hoje o consumidor tem a percepção de que encontrará preços mais baixos nos sites e um perfil mais dilatado de parcelamento”, afirma. Para Lopes, da camara-e.net, a eficiência na gestão de custos na cadeia desse comércio é o que possibilita a oferta de condições e preços diferenciados. “Há menos gastos, do valor do ponto físico à prateleira e ao consumo de energia”, diz. “Nesse sentido, é uma opção de consumo mais inteligente e sustentável até para o consumidor, que economiza não apenas com melhores preços, como também com outros gastos implícitos nessa compra, como o de deslocamento até um shopping”, exemplifica. Conscientes ou não de suas pegadas de carbono no ato da compra, o fato é que, pela primeira vez, este ano os e-consumidores colocaram os eletrodomésticos – caracterizados por serem, em geral, de maior preço e volume – no topo da lista dos mais vendidos pela Web, seguidos de artigos de informática. Outra característica nova é a alta adesão ao conceito da compra coletiva – segundo Umberti, já soma 1,2 mil sites e este ano poderá chegar a RS 1 bilhão em faturamento -, que vem ampliando a compra de serviços pela rede, antes concentrada em passagens de avião ou pacotes turísticos. Essa expansão, entretanto, não chega sem desafios. O primeiro é logístico, refletido nos problemas já ocorridos de cumprimento do prazo de entrega em épocas festivas. “Em datas críticas, como o Natal, o volume de vendas chega a aumentar 40%. e o desafio da infraestrutura que temos e grande”, garante Lopes. “Hoje, os grandes gargalos são a logística insuficiente e o investimento em tecnologia para facilitar a compra e garantir assertividade na comunicação com o internauta”, completa Umberti. Outro fator que vem preocupando os empresários é a dupla tributação de ICMS que alguns estados, sobretudo os do Nordeste, passaram a aplicar nas compras pela internet, já que a maioria das lojas se concentra em São Paulo e no Rio e o imposto é recolhido no lugar de origem da empresa, e não de destino do produto. “Já identificamos uma tendência de alguns varejistas a reduzir o foco nessas regiões”, informa Umberti. “Ninguém está contra uma tributação, desde que seja clara e feita de forma correta”, reforça Lopes. “Defendemos que não se altere a carga tributária, mantendo-a ou dividindo-a de forma equilibrada para não prejudicar nem o setor, nem o consumidor”, afirma. (S.M.) Fonte: Revista Conjuntura Econômica (julho 2011)