Valor Setorial Logística – Para atender às necessidades das empresas e dos clientes, empresas investem em tecnologia e criatividade Encomendas expressas – Por Marlene Jaggi São volumes pequenos, peças e produtos para reposição de estoque, mercadorias compradas pela internet, equipamentos comprados ou vendidos fora do país. Com características específicas, focadas nas necessidades imediatas de consumidores e empresas, o mercado de entregas expressas vem apresentando taxas de crescimento jamais observadas e registrando importantes movimentações dentro das empresas. Fazem parte desse grupo companhias nacionais como os Correios, com sua divisão Sedex, e multinacionais como a DHL Express e a Fedex. Mas, seja qual for a origem ou o porte do provedor de entregas expressas, os desafios são os mesmos: inovar, criar estratégias, diferenciais, investir em tecnologia, em expansão e abusar da criatividade. Só assim conseguirão atender à demanda que aumenta na proporção do avanço da economia, do grau de exigência dos consumidores e das necessidades das empresas, diz Maria Fernanda Hijjar, diretora de inteligência de mercado do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos). O crescimento de 50% nas vendas via e-Sedex – produto dos Correios que atende exclusivamente o comércio eletrônico – no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período de 2010 levou os Correios a colocar em marcha um investimento de R$ 100 milhões para aumentar sua capacidade de transporte e a ampliar para 205 as localidades atendidas pelo serviço. Dona de cerca de 35% do mercado de entregas expressas do país, a ECT faturou com esse negócio no ano passado R$ 3,3 bilhões, parcela importante da receita total da empresa, de R$ 13 bilhões. Somente os produtos da família Sedex contribuíram com R$ 2,4 bilhões, resultado de 150 milhões de entregas – 12,9 milhões das quais advindas do comércio eletrônico. Criado há dez anos, o e-Sedex vem registrando crescimento de 40% ao ano, diz o diretor comercial dos Correios, José Furian Filho. “Com o aquecimento do mercado, as pessoas passaram a comprar mais pela Internet”, explica. Segundo ele, têm contrato com o e-Sedex 6 mil clientes, entre os quais estão grandes sites como Submarino, Americanas, Extra, e pequenos e médios empresários que utilizam o e-commerce para conquistar mercados mais distantes. Esse excelente momento do comércio eletrônico também tem provocado movimentos importantes nas duas pontas da cadeia logística: a diversificação de atuação e a integração de operações. Ao investir R$ 77 milhões na compra de 80% da Direct Express Logística Integrada, a Tegma Gestão Logística assegurou sua participação numa área em que ainda não atuava: a distribuição, especialidade da Direct Express, que registra a marca de 1 milhão de entregas mensais e detém 25% da entrega do e-commerce nacional. Do lado dos varejistas, a proliferação do consumidor digital impulsiona a formação de integradoras, casa da Nova Pontocom, marca lançada em março para uma empresa criada em 2008 e que integra as operações de e-commerce do Ponto Frio, Extra e Casas Bahia. Em apenas dois anos, o faturamento da empresa saltou de R$ 290 milhões em 2008 para R$ 2,7 bilhões em 2010 e elevou sua participação no mercado de 4% para 18%. Um crescimento de 831% que não vai parar por aí: a expectativa é avançar neste ano entre 30% e 50% acima do aumento de vendas do mercado nacional, que, de acordo com dados da e-bit deve crescer 30%, passando a R$ 20 bilhões. Empresas interessadas em entrar no comércio eletrônico Deve contribuir com esse crescimento o negócio eHub (B2B), que oferece soluções completas para novas empresas interessadas em entrar no comércio eletrônico. O grande desafio, porém, está na entrega dos produtos. Segundo German Quiroga, CEO da Nova Pontocom, a empresa domina a primeira fase, mas a segunda, a dos transportes, não está bem resolvida. “No ano passado, fomos os primeiros a falar que não iríamos conseguir fazer entregas para o Natal”, lembra Quiroga. “É como se fossem duas partes, correr e nadar. Em correr estamos muito bem, mas em nadar (transporte) é uma piscina de mercúrio”, compara. A empresa utiliza transportadoras terceirizadas para incrementar a logística e vai acrescentar dois centros de distribuição aos quatro que já tem. A queixa de Quiroga está diretamente relacionada ao gap de infraestrutura observado no país. “Ao logo das últimas décadas o Brasil fez investimentos sociais importantes e tem como horizonte cobrir o gap logístico. A dúvida é saber em que velocidade o país vai caminhar para dar conta disso”, observa Cláudio Fonseca, gerente de operações da Fedex Express Brasil. Segundo ele, a empresa saiu bastante forte do que entrou na crise de 2008. A Fedex Express contribuiu com a maior parte (US$26,6 bilhões) da receita total do grupo Federal Express, que atua em 220 países: US$38 bilhões no exercício encerrado em julho de 2010. No terceiro quadrimestre do exercício atual, o faturamento da corporação foi de US$9,6 bilhões e o da Fedex Express, de US$6,5 bilhões, o que representou crescimento de 11% sobre igual período do exercício anterior. No Brasil, atende mais de 2 mil cidades, por meio de alianças estratégias com transportadoras rodoviárias como Cometa, Americana e Rodofácil. Embora seja a única empresa do setor com presença física em todos os municípios brasileiros e estrutura instalada que permite movimentos do mercado, os correios também sofrem os efeitos do gap. No caso da estatal, cuja atuação é basicamente doméstica, as dificuldades começam com a falta de efetivo, que só deve ser resolvida com a realização de concurso público, passa pela falta de aviões, veículos terrestres e pelas precárias condições das estradas, diz Furian Filho. Enquanto esperam a solução do gap de infraestrutura, as empresas vão fazendo a sua parte. Estão em fase de compra nos Correios, por exemplo, 1,8 mil celulares para a primeira base do programa que vai permitir aos 55 mil carteiros do país dar baixa no sistema na hora em que a entrega for feita ao cliente, conta o diretor comercial da empresa. A ECT testa em Campinas a viabilidade de utilização de um veículo elétrico, avalia a contribuição do trem-bala pra as operações de carga e a possibilidade de ampliar sua presença no mercado internacional, de onde vêm apenas 4% de seu movimento. Braço do grupo Deutsche Post BHL, que alcançou uma receita mundial de 51 bilhões em 2010, a DHL Express Brasil vem apresentado cada vez mais novidades ao mercado nacional: em 2010, criou uma solução específica para o e-commerce, outra para seus 9 mil clientes de pequeno e médio portes, que agora contam com uma estrutura com 25 pessoas para cuidar do complexo processo alfandegário, e lançou a carga aérea expressa para Manaus, para atender à urgência nas operações de importações e exportações das empresas locais. “Faz parte da nossa cultura entender o cliente e ter flexibilidade para criar soluções pra suas necessidades”, diz a diretora de marketing da empresa Juliana Vasconcelos. Fonte: Revista Valor, p. 88-89