O mercado global de mobile payment caminha a passos largos, mas ainda está longe de se tornar um meio de pagamento que venha substituir modalidades como os cartões de plástico. Para se ter uma ideia, de acordo com dados do Gartner, nesse ano os pagamentos móveis movimentarão US$ 86,1 bilhões em todo o mundo. Esse montante é 75,9% maior do que o obtido em 2010, que foi de US$ 48,9 bilhões. O número de usuários desse tipo de modalidade de pagamento deve crescer 38,2% em relação a 2010, saindo da soma de 102,1 milhões de pessoas para 141,1 milhões de usuários. Elia San Miguel, analista de telecomunicações do Gartner, diz que, apesar desses resultados, os números ainda estão abaixo das expectativas do instituto. “Há muito tempo se vê uma movimentação das empresas de cartões de crédito em relação ao desenvolvimento de soluções para substituir o cartão de plástico. Em curto prazo, essa substituição não deve acontecer, mesmo nos mercados mais desenvolvidos. Nesse cenário, podemos incluir o mobile payment.” Segundo ela, havia um entusiasmo em relação à expansão do método de pagamento no mundo, mas os desafios culturais ainda são grandes. No entanto, Elia destaca o crescimento do micro payment, que engloba o pagamento de compras de menor valor via celular, como passagens de ônibus, lanches e estacionamento, com valores de, no máximo, R$ 40. Luiz Rodrigo Silva, sócio-diretor da Accenture, ressalta que, para ser eficiente, o mobile payment precisa ter agilidade, segurança e conveniência, trazendo confiança ao usuário. Um dos desafios nesse sentido é oferecer a tecnologia que permita esse tipo de pagamento, com os aparelhos necessariamente adequados para responder a ela. “Nós fizemos uma pesquisa que mostra que 70% dos usuários de celular são favoráveis a fazer pagamentos utilizando seu aparelho. Isso já demonstra o tamanho potencial de desenvolvimento que esse mercado pode ter nos próximos anos”, afirma. Apesar de ainda estar em um estágio de desenvolvimento, esse mercado oferece muitas oportunidades de negócios, de acordo com João Paulo Bruder, analista do mercado de PCs da IDC. “Lidamos com um público que está cada vez mais dependente do celular. Fizemos uma pesquisa que apontou que mais de 70% das pessoas que o esquecem em casa voltam para trás para pegar o aparelho”. O grande desafio na visão dos especialistas é criar um modelo de negócios que viabilize o mobile payment. No Brasil, segundo Bruder, há tecnologia e equipamentos. Uma delas é o NFC (Near Field Communication), que conta com um dispositivo leitor que valida a compra. Mas para funcionar, o telefone celular tem que ter um chip com essa tecnologia. “O desafio é a integração entre os entes envolvidos – quem vai cuidar da operacionalização desse tipo de solução e quem vai cuidar da parte financeira, ou seja, os bancos e as empresas de telecom. Um não vai conseguir deslanchar sem o outro e ambos têm interesse nesse tipo de tecnologia.” O especialista destaca que um dos principais benefícios do mobile payment é a bancarização. “Há um grande número de pessoas que possui aparelho, mas não mantém uma conta em banco”, diz, levando em consideração que se estima que há mais de 67 milhões de celulares em operação no país. Outro ponto a ser solucionado diz respeito às diversas plataformas móveis existentes, o que complica a operacionalização da tecnologia. Cesar Augusto Faustino, gerente de Prevenção a Fraudes do banco Itaú Unibanco e coordenador de fraudes da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), ressalta que o mobile payment já é uma realidade, mas existem alguns percalços. “O impasse envolve questões de desenvolvimento de novos aplicativos, além da questão de segurança, o entendimento das pessoas sobre o funcionamento da tecnologia e mais confiança para utilizar o celular para pagar suas contas. Essa resistência do usuário ainda é o maior desafio para o setor. Há sempre uma barreira cultural a ser vencida, mas não tenho dúvida de que isso deve acontecer em breve”. Há alguns anos, os bancos já vêm investindo no desenvolvimento de soluções de mobile payment. “Em 2006, o HSBC criou um processo chamado de M-Cash, no qual o cliente se cadastrava no banco, e, ao comprar em um varejista de e-commerce, a informação era direcionada para o banco, que disparava uma ligação para o telefone do cliente informando os dados da transação e um código único para que ele digitasse o código no site”, explica Pedro Alves, superintendente de canais diretos do HSBC. Em 2007, a instituição financeira optou por descontinuar o serviço. “Mas foi um grande aprendizado, pois era muito cedo para que tivéssemos uma adesão maior, tanto dos varejistas quanto dos clientes. Outro ponto importante é que ele estava disponível somente para débito em conta e os clientes preferiam cartão de crédito”, diz Alves. Atualmente, o banco trabalha com o produto Meu HSBC Celular, que oferece a possibilidade de pagar contas e títulos pelo celular. Em termos de futuro, os especialistas acreditam na viabilização do mobile payment, mas não como principal meio de pagamento. “Nós vamos conviver com mais de um modelo tecnológico. Uma tendência importante é que o celular será a peça central para a identificação do cliente, seja utilizando NFC ou como gerador – software ou token – ou receptador do código de confirmação da transação, via SMS. Outra tendência será o uso de biometria para a identificação, o que pode vir até a dispensar a presença do celular”, diz Pedro Alves, do HSBC. João Paulo Bruder, da IDC, acredita que, em até três anos, o mobile payment será realidade no Brasil. Luiz Rodrigo Silva, da Accenture, reforça. “Vai acontecer, é questão de tempo. O que falta é ter a escala que todos esperam, e, principalmente, funcionando de forma simples para utilização”. Por Julia Zillig Fonte: Decision Report