Uma em cada três livrarias do Brasil não chega a faturar o equivalente a R$ 100 mil por mês. O número consta em uma amostragem sobre o faturamento desse segmento no Brasil, realizado pela ANL (Associação Nacional de Livrarias), que ouviu 67% dos representantes do segmento (entre pequenas, médias e grandes livrarias).
São 32,35% das livrarias ouvidas que possuem faturamento anual menor do que R$ 1,2 milhão. As livrarias que faturam entre R$ 1,2 milhão e R$ 9,6 milhões representam 29,41% das entrevistadas. Por outro lado, o maior percentual fica com as grandes livrarias – que faturam acima de R$ 9,6 milhões por ano. Na média, o crescimento de 2009 para 2010 foi de 9,6%.
Segundo o presidente da ANL, Vitor Tavares, esse dado mostra uma concentração cada vez maior do segmento no País. “O que percebemos é que as maiores livrarias representam uma fatia cada vez maior do mercado. Há uma concentração, primeiro nos grandes centros, depois nas grandes marcas. Isso compromete o faturamento das livrarias independentes, menores, que sofrem muito com a concorrência ‘predatória’, onde o que mais conta é o desconto para os itens vendidos”, ressalta.
Outro aspecto lembrado pelo dirigente da Associação das Livrarias é a crescente concorrência de estabelecimentos que não são propriamente livrarias (lojas de conveniência, megastores) e a política de distribuição e acesso aos livros didáticos pelo governo federal. “É uma política positiva, que saudamos do ponto de vista educacional, mas que comprometeu o faturamento daqueles estabelecimentos que dependiam das voltas às aulas”, explica.
Exemplares
Entre as livrarias ouvidas, 18,75% vendem menos de 10 mil livros por ano. As que vendem entre 10 e 50 mil livros por ano são 15,63%. Livrarias que comercializam entre 50 mil e 250 mil exemplares são 25%, número bem superior aos 9,38% que vendem entre 250 mil e 500 mil exemplares. Novamente, os grandes estabelecimentos são destaque: 31,25% vendem acima de 500 mil unidades por ano.
Eletrônicas
A web já está transformando o setor de livrarias no Brasil. Segundo Tavares, um dos efeitos mais perceptíveis nas livrarias, com o crescente acesso à internet, é a diminuição da necessidade de compra de livros acadêmicos, voltados para o público universitário, que usa muito mais a web para realizar pesquisas.
A venda presencial do livro também é afetada pelo hábito cada vez mais frequente de compra pela internet. Segundo a pesquisa, 48,57% dos livreiros entrevistados trabalham com e-commerce. E, para mais de 64%, a venda por e-commerce representa menos de 8% do faturamento. As que têm na web mais que 12% do que faturam são menos de 15%.
Vitor Tavares diz que o dado está ligado à falta de disponibilidade de investimento de parte dos livreiros. “Para o empreendedor que não dispõe de grandes recursos, ainda é muito trabalhoso vender pela internet, montar um site. Se a empresa não dispõe de um produto exclusivo, sofre muito com a concorrência”, analisa.
Mesmo assim, o presidente da ABL lembra que é necessário que os empreendedores da área estejam conectados com as principais tendências e mudanças tecnológicas. “É um desafio trabalhar com o avanço da tecnologia, a crescente popularização dos e-books, mas é necessário que as empresas atentem para criação de plataformas digitais, sistemas de relacionamento e programas de fidelidade”, opina.
Novo mercado
Tavares aposta em um futuro onde as tradicionais livrarias, pautadas apenas na venda convencional de itens, não tenha grandes perspectivas de futuro. “Nos novos tempos, a livraria precisa se posicionar, se dedicar muito à inovação, criatividade e novas possibilidades. Temos que repensar o conceito da livraria tradicional. É preciso agregar programação cultural, café, teatro, centros de cultura, além de dotar os estabelecimentos de tecnologia, wi-fi e novidades”, propõe.
Segundo o levantamento da ANL, 78,13% das entrevistados afirmaram ter alguma expectativa de investimento para 2011. Entre eles, 35% apostarão em capacitação profissional, 29% em ampliação ou reforma das lojas e 25% em investimento em tecnologia. Com menos respostas, estão 9% em aberturas de lojas e 2% em outras áreas.
Infanto-juvenil
A área de infanto-juvenil é a que tem maior representatividade nas vendas das livrarias, segundo a pesquisa. Em seguida, está o assunto autoajuda/esotéricos, seguido de livros acadêmicos, literatura geral-ficção e literatura geral não-ficção.
Já entre as cinco áreas que mais cresceram em vendas no ano passado, além do segmento de infanto-juvenil, líder do ranking, destaque para literatura geral de ficção e literatura geral de não-ficção. Em quarto, estão o segmento de livros acadêmicos de ciências humanas e, depois, o de autoajuda/esotéricos.
Fonte: InfoMoney